O papel dos movimentos sociais e a necessidade de sua reorganização 3r686a

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Em tempos de fragmentação e retrocessos, fortalecer os movimentos sociais e reconstruir um projeto político unificado é essencial para enfrentar as desigualdades e transformar o país.

Imagem: reprodução/CTB

Os movimentos sociais desempenham um papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa e democrática. A história nos mostra que as conquistas sociais e políticas não ocorreram por mera concessão dos governos ou das elites, mas sim por meio da mobilização coletiva de trabalhadores, estudantes, mulheres, moradores de periferias e diversos outros segmentos. Direitos básicos como jornada de trabalho digna, o à educação pública, urbanização de bairros periféricos e reforma agrária foram frutos da organização popular e da persistência na luta.

O que são os movimentos sociais?

Os movimentos sociais nascem das necessidades concretas da população e se organizam para responder a desafios específicos. O movimento sindical, por exemplo, surge da necessidade dos trabalhadores de melhorar suas condições laborais. As associações de moradores têm um papel fundamental nas periferias, lutando por saneamento básico, infraestrutura e serviços públicos essenciais. O movimento estudantil historicamente desempenhou uma função central na defesa de melhorias no ensino. O movimento negro e o movimento de mulheres atuam na afirmação de direitos e na denúncia das desigualdades estruturais.

Cada um desses movimentos possui sua própria identidade e trajetória, mas todos compartilham o mesmo princípio: a mobilização coletiva é o caminho para conquistar e garantir direitos.

A luta vai além do governo

Muitas vezes, o debate sobre transformações sociais foca apenas nas responsabilidades dos governos. Nos últimos anos, a expectativa de que o governo Lula resolva os problemas do país tem sido uma constante em setores progressistas. No entanto, essa visão ignora um fator essencial: a luta política acontece em múltiplos espaços, e os movimentos sociais precisam estar fortalecidos para pressionar e construir alternativas efetivas.

Os avanços históricos não ocorreram apenas por decisões institucionais, mas por meio da luta política e mobilização social. A democracia se faz nas ruas, nos bairros, nas universidades e nos locais de trabalho. Se a força dos movimentos sociais diminui, o campo político progressista perde sua capacidade de reivindicação e transformação.

O desafio da reorganização dos movimentos sociais

A ausência de um horizonte político concreto tem sido um dos principais desafios para a reestruturação dos movimentos sociais, dificultando a articulação de lutas específicas dentro de um projeto amplo de transformação social. Nos últimos anos, a fragmentação ideológica e a dispersão das formas de organização reduziram significativamente sua capacidade de mobilização. Esse cenário foi agravado pelo fim do bloco socialista, que, por décadas, serviu como referência concreta para alternativas ao capitalismo. Sem esse paradigma estrutural, os movimentos sociais aram a enfrentar dificuldades na formulação de um programa político unificado, o que contribuiu para um enfraquecimento de suas estratégias e da capacidade de projetar mudanças sistêmicas.

O capitalismo contemporâneo, impulsionado pelas transformações tecnológicas, provocou uma pulverização das relações de trabalho, fragmentando os vínculos empregatícios e precarizando a organização coletiva dos trabalhadores. Esse fenômeno dificultou significativamente a mobilização sindical e a atuação dos coletivos tradicionais, que antes se estruturavam em torno de categorias profissionais mais bem delimitadas. Com a ascensão de novas formas de trabalho, como o modelo de aplicativos, o trabalho autônomo e os contratos flexíveis, os mecanismos clássicos de representação perderam parte de sua força, tornando mais complexa a articulação de reivindicações comuns. Diante desse cenário, os movimentos sociais precisam adaptar suas estratégias, ampliando suas formas de organização e buscando novas abordagens para responder às dinâmicas do capitalismo atual.

É fundamental compreender a realidade atual e retomar a conexão com o povo, independentemente das diversas formas em que ele se organiza hoje. Nos movimentos sociais, não deve haver uma disputa sobre qual segmento é mais relevante – se o sindical, o de mulheres, o negro ou o LGBTQIA+. O essencial é fortalecer a organização popular, atendendo às necessidades específicas de cada grupo e vinculando essas demandas a uma luta mais ampla, capaz de promover mudanças estruturais na sociedade. A mobilização deve ser integrada e estratégica, reconhecendo a diversidade das pautas sem perder de vista o objetivo comum: a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

O movimento sindical ocupou um papel central na organização da classe trabalhadora, garantindo conquistas fundamentais como jornada de trabalho reduzida, salário mínimo e direitos previdenciários. Sua estrutura era baseada na relação direta entre capital e trabalho, com foco nas reivindicações econômicas e nas condições laborais. No entanto, as mudanças no mercado de trabalho e na composição social da classe trabalhadora, impulsionadas pelo avanço do capitalismo e pelas transformações tecnológicas, trouxeram à tona novas formas de exclusão e exploração, exigindo abordagens mais amplas.

Por outro lado, as pautas identitárias emergiram como respostas às desigualdades estruturais que não podem ser explicadas apenas pela exploração econômica tradicional. Movimentos feministas, LGBTQIA+, antirracistas e de direitos humanos aram a reivindicar espaço, denunciando formas de opressão que extrapolam a dimensão trabalhista e se manifestam em discriminação social, violência estrutural e falta de representatividade. Enquanto o sindicalismo tradicional busca mudanças dentro das relações de produção, as lutas identitárias desafiam os fundamentos culturais e institucionais que perpetuam exclusões e desigualdades.

O problema não está na existência de diferentes frentes de luta, mas na incapacidade de estabelecer conexões entre elas e um projeto alternativo ao capitalismo. Quando a disputa interna gira em torno de qual pauta merece mais atenção, há um enfraquecimento coletivo, pois setores progressistas deixam de atuar de forma complementar e am a tratar suas bandeiras como concorrentes. No entanto, as transformações reais e duradouras acontecem quando as lutas específicas se articulam dentro de um projeto mais amplo, que compreenda tanto as demandas econômicas quanto os processos de opressão social.

O desafio da reorganização dos movimentos sociais a, portanto, pela necessidade de superar divisões internas e encontrar formas de integração entre as diversas formas de luta. A luta por condições dignas de trabalho é indissociável do combate ao racismo estrutural, à desigualdade de gênero e à discriminação de minorias. Só com uma visão unificada e interseccional será possível construir um movimento forte o suficiente para enfrentar os desafios impostos pelo capitalismo contemporâneo e promover mudanças estruturais na sociedade.

A necessidade de um projeto político alternativo

A maior dificuldade que os movimentos sociais enfrentam hoje não é apenas a falta de organização, mas a ausência de um projeto político que represente uma alternativa real ao capitalismo. Antes, havia um horizonte claro de transformação social. Hoje, essa perspectiva está enfraquecida, e sem um objetivo comum, a mobilização se fragmenta.

O fortalecimento dos movimentos sociais a por dois eixos centrais:

  1. Retomar a luta nas ruas, ampliando a capacidade de organização e reivindicação da sociedade civil.
  2. Reconstruir um projeto político alternativo, capaz de propor respostas concretas para os desafios contemporâneos e de apontar para um futuro além do capitalismo.

Conclusão: A urgência da mobilização popular

Os movimentos sociais são fundamentais para o fortalecimento da democracia e para a construção de uma nova sociedade. No entanto, para que sua atuação seja eficaz, é necessário retomar a mobilização de massas, reconstruir projetos políticos coletivos e superar fragmentações ideológicas.

A luta não pode depender apenas do governo ou das instituições formais. A ação política precisa ocorrer em todos os espaços, desde o parlamento, local de trabalho, universidade, nos bairros e comunidades. O desafio da reorganização dos movimentos sociais é grande, mas necessário para enfrentar o avanço do individualismo e recuperar a força da mobilização popular.

Esse é o chamado: fortalecer os movimentos sociais é essencial para transformar a realidade e construir uma sociedade mais justa e democrática.

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