Estamos em guerra mundial, e ela é cultural 1p505z
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A extrema-direita avança com força cultural global; enfrentá-la exige ação estratégica nas ideias, nas redes e nas ruas para defender a democracia e os direitos humanos.
Publicado 30/05/2025 15:10 | Editado 30/05/2025 14:11

A ascensão global de movimentos de extrema-direita representa um desafio profundo aos valores democráticos, aos direitos humanos e à convivência pluralista. Combater esta onda exige mais que respostas políticas pontuais; requer combate cultural dedicado, uma disputa ativa no terreno das ideias e dos valores que sustentam nossas sociedades. Esta batalha pela hegemonia se dá em um mundo, com correlação de forças amplamente desfavorável e que tem piorado desde a grande crise do capitalismo de 2008.
A derrocada do campo socialista no leste europeu foi seguida pela ascensão do neoliberalismo, mas a falência desse último levou a direita a apostar na radicalização, construindo uma agenda baseada em costumes conservadores, vários inclusive já superados historicamente e que agora são retomados, e na busca de um “inimigo” físico e ideológico a ser combatido, conseguindo penetrar no imaginário de largas parcelas da população que historicamente não votam e não pertencem a esse campo e nem eram influenciado por suas ideologias, para isso regula o discurso de acordo com as necessidades: na Europa são os imigrantes, já na América Latina são os opositores de esquerda e os que classificam como “corruptos”, a pauta moral pesa em todas as incursões desse movimento que ganha cada vez mais densidade e coesão internacional, ensaiando seus primeiros encontros em nível global inclusive.
Uma guerra cultural se faz necessária, a extrema-direita já vem travando a sua há anos. Grupos extremistas operam de forma sofisticada na esfera cultural. Eles disseminam narrativas simplistas, exploram medos reais (econômicos, identitários, de perda de status), promovem revisionismo histórico, atacam instituições democráticas e a mídia crítica, e normalizam discursos de ódio e exclusão. Usam redes sociais, cultura pop, meios de comunicação alternativos e redes sociais para semear suas ideias. Ignorar esta dimensão cultural é subestimar sua força.
É preciso compreender que as ideias precedem a ação política. O autoritarismo, o nacionalismo étnico, a misoginia, a LGBTQIA+fobia, o racismo e a xenofobia não surgem do vácuo. São alimentados por narrativas culturais que desumanizam grupos específicos, romantizam ados imaginados e apresentam soluções violentas como legítimas. Derrotá-los politicamente exige desconstruir essas narrativas na base, o que exige engajamento em espaços de rede social, nas ruas com a retomada de mobilizações e na disputa de ideias em todos os campos possíveis.
Reagir apenas aos ataques ou às vitórias eleitorais da extrema-direita é uma estratégia perdedora, a chamada “defesa iva” não dá conta do turbilhão de ofensivas que o campo democrático sofre. É necessário ocupar proativamente os espaços de produção e disseminação cultural com narrativas alternativas, com profundidade e baseadas em evidências, que ofereçam visões de futuro inclusivas e esperançosas, que dialoguem com a solução de problemas como emprego, renda, segurança, saúde e qualidade de vida.
A convocação para travar uma guerra cultural não é um chamado ao sectarismo, mas um imperativo de defesa democrática. É o reconhecimento de que as ideias que fundamentam a extrema-direita – o ódio, a exclusão, o autoritarismo – só serão derrotadas quando forem deslegitimadas e substituídas no imaginário coletivo por valores de defesa da pluralidade, democracia, tolerância, liberdade, solidariedade e justiça para todos, derrotando o formato de opressão e esmagamento do diferente, operado por eles.
Esta batalha se dá nas escolas, nas redes, nas telas, nas ruas e nos corações e mentes. Exige criatividade, coragem, recursos e uma profunda crença no poder das ideias para moldar o mundo. Ignorá-la é ceder terreno ao retrocesso. Enfrentá-la é um ato de esperança e resistência necessário para o futuro das democracias em todo o planeta.