China acaba com tarifas de importação para a África e desmoraliza os EUA 1xr6o
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Pequim anuncia isenção tarifária total a 53 países africanos e amplia cooperação estratégica, marcando contraste com a abordagem protecionista e unilateral de Washington no comércio internacional
Publicado 12/06/2025 15:56 | Editado 13/06/2025 13:25

A China deu um o decisivo para reposicionar sua política externa e comercial na África ao anunciar, nesta semana, a eliminação total de tarifas de importação para todos os produtos oriundos dos 53 países africanos com os quais mantém relações diplomáticas. A medida, de efeito imediato, foi anunciada pelo presidente Xi Jinping em uma carta à Reunião Ministerial do Fórum de Cooperação China-África (Focac), realizada em Changsha, província de Hunan.
Trata-se de uma reconfiguração profunda na dinâmica sino-africana. Até então, o o preferencial ao mercado chinês estava limitado aos países classificados como menos desenvolvidos (LDCs). Agora, nações africanas de renda média, como Nigéria, Egito e África do Sul, também poderão exportar ao mercado chinês sem barreiras tarifárias, abrindo caminho para uma inserção mais qualificada e equilibrada no comércio bilateral.
Mais do que um gesto econômico, o pacote representa uma aposta política de longo prazo na parceria com o continente africano — e uma resposta estratégica à crescente competição global por influência no Sul Global.
Pequim e Washington: duas visões para o comércio global
A decisão da China contrasta fortemente com a postura adotada pelos Estados Unidos no comércio internacional. Enquanto Pequim reafirma seu compromisso com o multilateralismo e com uma “ordem internacional baseada em regras” sob a égide da ONU e da OMC, Washington tem adotado uma abordagem cada vez mais unilateral e protecionista, marcada pela imposição de tarifas, revisão de acordos e políticas de contenção tecnológica.
Desde a primeira istração Trump — e intensificando-se sob o governo Biden e terceiro de Trump — os EUA vêm utilizando tarifas como ferramenta geopolítica, sobretudo contra a China e países do Sul Global. Esse comportamento foi diretamente criticado na Declaração de Changsha, principal documento da reunião ministerial sino-africana, que rejeitou “o uso de tarifas como arma política” e defendeu uma globalização mais inclusiva.
Ao ampliar o o de países africanos ao seu vasto mercado interno, a China oferece um contraponto prático e desmoraliza o modelo norte-americano: em vez de contenção e dependência, parceria e abertura.
Cooperação além do comércio: um pacote de desenvolvimento com viés estratégico
A isenção tarifária anunciada por Xi Jinping vem acompanhada de um pacote robusto de iniciativas nas áreas de infraestrutura, tecnologia, saúde, educação e transição energética. São medidas que não apenas estimulam as exportações africanas, mas também buscam fortalecer a capacidade produtiva dos países do continente, com foco na industrialização e no comércio de produtos de maior valor agregado.
Entre os destaques do pacote estão:
- Programas de capacitação para exportadores africanos;
- Redução de barreiras não tarifárias, como exigências sanitárias e certificações técnicas;
- Criação de zonas de o preferencial em feiras comerciais e plataformas digitais;
- Apoio a projetos em energia limpa, digitalização de cadeias produtivas e inovação tecnológica.
A estratégia chinesa explicita uma visão holística de cooperação, em que o comércio é parte de um processo mais amplo de desenvolvimento autônomo e integração entre países do Sul Global — conceito central à diplomacia chinesa desde o lançamento da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI).
Resultados imediatos e promessa de longo prazo
Os frutos dessa aproximação já se fazem notar. Nos primeiros cinco meses de 2025, o comércio bilateral sino-africano somou US$ 132 bilhões — um crescimento de 12,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Mais de US$ 1,8 bilhão em novos investimentos e US$ 20,6 bilhões em financiamentos foram anunciados desde a cúpula de 2024.
O fórum também serviu como palco para o lançamento de novos centros de pesquisa, programas de capacitação profissional e ações conjuntas em segurança e combate ao terrorismo — componentes que ampliam o escopo da parceria para além da dimensão econômica.
O Sul Global como palco da disputa sistêmica
A nova investida da China na África não ocorre no vácuo. Ela se insere em um contexto de transição na ordem internacional, marcado pela disputa sistêmica entre potências e pela busca de alternativas ao modelo ocidental de ajuda externa, muitas vezes associado a condicionalidades políticas e austeridade fiscal.
Ao apresentar a parceria sino-africana como um modelo de cooperação “autônoma e multipolar”, Pequim oferece não apenas o ao mercado, mas também uma narrativa: a de que o desenvolvimento não precisa ar pela tutela das grandes potências ocidentais.
Enquanto isso, os EUA mantêm sua ênfase em sanções, tarifas e acordos bilaterais assimétricos, com foco na segurança nacional e contenção de rivais. O contraste não poderia ser mais evidente — e é nesse contraste que a China aposta para consolidar sua influência global.
Diplomacia econômica como chave da disputa geopolítica
A ofensiva diplomática e econômica da China na África mostra que o futuro do comércio internacional não será definido apenas por tarifas ou cifras, mas por narrativas, alianças e modelos de desenvolvimento.
Ao nivelar o campo para países africanos, fortalecer capacidades locais e rejeitar o protecionismo, a China se posiciona como parceira estratégica do Sul Global — e desafia diretamente a lógica de contenção, unilateralismo e competição zero-soma que ainda predomina em Washington.
Se os países africanos conseguirão transformar esse novo espaço de manobra em desenvolvimento sustentável e soberania econômica ainda é uma questão em aberto. Mas o tabuleiro geoeconômico já mudou — e a China parece estar vários os à frente.