Sob perseguição judicial, Cristina Kirchner é condenada à prisão na Argentina 6j4z11

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Ex-presidenta é condenada a seis anos de prisão e inelegibilidade vitalícia em decisão que especialistas denunciam como “lawfare político”

Ameaça de prisão de Cristina Kirshner mobiliza oposição, setores populares, sindicalismo e organizações internacionais, que acusam lawfare.

A Suprema Corte da Argentina confirmou nesta terça (10) a condenação de Cristina Fernández de Kirchner por “istração fraudulenta” no caso Vialidad , que investiga supostas irregularidades em obras públicas na província de Santa Cruz durante seu governo (2007-2015). A sentença de seis anos de prisão, acompanhada de inelegibilidade vitalícia, foi comemorada pelo presidente Javier Milei e pela oposição de direita como uma vitória da “justiça”. No entanto, críticos denunciam um processo judicial contaminado por irregularidades, evidências fragilizadas e uma narrativa midiática que priorizou a condenação política à busca de provas concretas.

A condenação de Cristina Kirchner marca um momento crítico para a Argentina. Ao utilizar o sistema judicial como arma política, o governo Milei e seus aliados não apenas prejudicam ilegalmente uma líder opositora, mas corroem as bases da democracia representativa. Enquanto o país debate o futuro de suas instituições, a resistência peronista e sindical promete transformar a luta por direitos e eleições livres em um campo de batalha nacional e internacional.

Lawfare: o sistema judicial usado contra a oposição

A condenação de Cristina não ocorreu em um vácuo. Especialistas e líderes políticos denunciam que o caso faz parte de uma estratégia de lawfare — o uso das instituições judiciais para criminalizar a oposição e eliminar concorrentes eleitorais.

Elementos-chave incluem pressão da mídia e do poder econômico. O jornal Clarín e outros veículos aliados ao governo de Mauricio Macri e Javier Milei moldaram a narrativa anti-Cristina por anos, apresentando-a como símbolo da “corrupção kirchnerista”.

A decisão foi acelerada, pois a Corte julgou os recursos da ex-presidenta em tempo recorde, coincidindo com o prazo para inscrição de candidaturas provinciais, uma manobra vista como intervenção eleitoral direta .

A fragilidade das provas foi denunciada, conforme o tribunal validou acusações sem evidências concretas da participação de Cristina no esquema, como e-mails ou documentos que a vinculem diretamente às obras.

Reações: críticas nacionais e internacionais

A decisão da Suprema Corte gerou reações em cadeia, com Axel Kicillof, governador de Buenos Aires, criticando o sistema judicial. “A justiça virou um instrumento de perseguição política. Se este é o sistema judicial, estamos no forno.”

Claudia Sheinbaum, presidenta do México, exprimiu solidariedade a Cristina, destacando a “dimensão política” da condenação.

Marco Enríquez-Ominami, líder do Grupo Puebla, – um fórum político e acadêmico composto por representantes políticos de esquerda do mundo – comparou o caso ao lawfare contra Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil e Evo Morales na Bolívia, afirmando que o objetivo é “proibir, não buscar justiça.”

Organizações de direitos humanos, como as Avós da Praça de Maio e o CELS (Centro de Estudos Legais e Sociais), condenaram a sentença, classificando-a como um ataque à democracia.

Irregularidades processuais: um processo montado sob suspeitas

Relatórios jurídicos e testemunhos de especialistas revelam falhas no julgamento. O tribunal ignorou pedidos de Cristina para refutar novas acusações incorporadas durante o processo.

Houve parcialidade de peritos, pois o especialista Eloy Bona, responsável por análises técnicas, foi flagrado tuitando contra a ex-presidenta antes do julgamento.

A manipulação do cronograma foi outro escândalo que chamou a atenção. A Corte devolveu o arquivo completo do caso ao tribunal em 24 horas após pressão da mídia, sem revisar pontos críticos levantados pela defesa.

Impacto eleitoral e social: a guerra contra o peronismo

A inelegibilidade de Cristina, principal líder do Partido Justicialista (PJ), tem consequências estratégicas para a desestabilização da oposição. Ao impedir sua candidatura a cargos públicos, o governo Milei busca enfraquecer o peronismo nas eleições provinciais e municipais.

Entidades sindicais como a CGT e movimentos sociais já discutem greves gerais e protestos em apoio à ex-presidenta, com manifestações em frente à sua residência em Buenos Aires.

O conflito deve ser levado ao Tribunal Penal Internacional (TPI). Advogados de Cristina, como Gregorio Dalbón, recorrerão sob o argumento de perseguição política.

O fantasma do lawfare regional: um padrão latino-americano

A condenação de Cristina se insere em uma tendência regional de lawfare contra líderes de esquerda:

Equador: Rafael Correia continua influente na política equatoriana, apesar do exílio após governar entre 2013 e 2017. A perseguição judicial intensificada após a traição de Lênin Moreno, eleito pela base correista, ameaçou prendê-lo. Seu vice Jorge David Glas Espinel foi preso após a invasão ilegal da Embaixada do México que lhe oferecera asilo político.

Brasil: A prisão de Lula em 2018, posteriormente anulada, serviu para impedi-lo de concorrer à presidência.

Bolívia: Evo Morales enfrentou acusações de fraude eleitoral após seu exílio forçado em 2019.

Chile: Marco Enríquez-Ominami citou o caso argentino como parte de uma “onda repressiva” que busca criminalizar a esquerda.

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