Ao atacar salários, Guedes joga nas costas do trabalhador sua incompetência 4p4p5n
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“Acho muita cara de pau o ministro vir a público falar isso. Se pagasse multa por mentira, estaria preso”, criticou o sindicalista João Carlos Juruna.
Publicado 18/12/2021 10:19

O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Juruna, criticou a argumentação do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao atacar os reajustes salariais de servidores em tom apocalíptico. Segundo o ministro, o aumento salarial para o funcionalismo gera inflação, endividamento e juros altos. Em apresentação de balanço de fim de ano da pasta, ele afirmou que a concessão indiscriminada de reajustes sabota as gerações futuras, ao aumentar a dívida pública.
Para Juruna, esse discurso busca poupá-lo de sua incompetência, já que ele é o comandante da política econômica de Bolsonaro desde 2019. Ele é o culpado pelo cenário econômico. “Querer jogar nas costas dos trabalhadores e do funcionalismo público a causa da inflação é buscar subterfúgios para sua incompetência”, declara o sindicalista, em entrevista ao portal Vermelho.
O tom cataclísmico de Guedes se expressa rumo ao longo prazo. “Se todos tiverem esses aumentos, será uma desonra com as futuras gerações. Que aí nós vamos [ver]: a inflação vai voltar, nós vamos mergulhar no ado. Nós vamos nos endividar em bola de neve de novo. Os juros vão subir, a inflação não terá tido uma alta temporária, será uma alta permanente”, declarou o ministro. Com essa retórica, Guedes se exclui de qualquer cenário catastrófico para a economia. Os problemas da economia nunca serão responsabilidade dele, mas de fatores externos a sua gestão.
Preparando-se para a estagnação pós-pandemia
Para Juruna, o que tem causado prejuízo ao país é justamente a maneira como o governo Bolsonaro conduziu a pandemia, tem aumentado de forma acelerada e drástica a taxa de juros e eliminado qualquer possibilidade de investimento público em todas as áreas.
As declarações de Guedes ocorrem um dia depois de sua pasta enviar ao Congresso Nacional ofício em que solicita a abertura de R$ 2,5 bilhões no Orçamento de 2022 para a concessão de aumentos para algumas categorias de servidores. No documento, a pasta pede também R$ 355 milhões em emissão de títulos públicos para financiar o aumento da contribuição da União para a previdência desses servidores.
Sua retórica antecipa as críticas do funcionalismo, já que a medida parece atender a promessa do presidente Jair Bolsonaro, nesta semana, de garantir aumentos para policiais federais, policiais rodoviários federais e agentes penitenciários em 2022. “O Brasil vai mergulhar num ado conhecido e tenebroso [se todos os pedidos de aumento forem concedidos]. O nosso papel é assegurar que isso não aconteça”, afirmou o ministro.
Guedes ressaltou que o congelamento da remuneração do funcionalismo, que vigorou entre junho do ano ado e dezembro deste ano, foi necessário para elevar os gastos com saúde ao longo dos anos de pandemia.
O tom triunfalista, por sua vez, é adotado para atribuir a seu governo os poucos e tímidos avanços ocorridos durante a pandemia, conforme ela arrefece. Segundo Guedes, 2021 foi o ano em que o país “se reergueu”, depois de enfrentar “receios” de desemprego em massa, de fome e de registrar centenas de milhares de mortes provocadas pela pandemia.
“Se tivesse que fazer uma síntese de 2021, eu diria que o Brasil se reergueu, e a doença tombou. Fizemos vacinação em massa da população brasileira, de novo surpreendemos o mundo com o funcionamento da nossa democracia”, destacou o ministro. Seu mensagem omite as enormes dificuldades sanitárias causadas pelo próprio governo, investigado por uma I pela sabotagem da vacinação. Embora tenha voltado ao mapa da fome, com imagens escabrosas de miséria pelo país, e uma das maiores taxas de desemprego do planeta, o ministro trata tudo isso como apenas “receio” de que poderia ocorrer.
“O Brasil está em pé porque a economia está como estava no dia em que a doença chegou”, comentou o ministro. Para o ministro, a inflação, atualmente superior a 10% no acumulado de 12 meses, é um fenômeno temporário, decorrente da pandemia. Ele disse que as maiores pressões em relação aos preços vêm de problemas de oferta, como a escassez global de algumas matérias-primas e a interrupção de fluxos comerciais e de cadeias produtivas. O problema do argumento é que o Brasil é dos principais fornecedores dessas matérias primas e alimentos do mundo, sem qualquer medida governamental de controle de exportações e garantia de segurança alimentar de sua população.
Juruna ironizou a auto-atribuição de competência do governo, expressa nas pesquisas eleitorais pelos altos índices de desaprovação da política econômica e do governo Bolsonaro, além da previsão de eventual derrota do presidente no pleito eleitoral em 2022. “Deve ser por isso que estou vendo as pesquisas a favor dele. Por isso, vejo a opinião pública elogiando Bolsonaro e ele”, disse o sindicalista.
“Acho muita cara de pau o ministro vir a público falar isso. Se pagasse multa por mentira, estaria preso”, criticou.